terça-feira, 1 de julho de 2008

Miséria e fome nas favelas de Nairobi: um cenário que vai agravar-se nos proximos tempos
Nas favelas da capital do Quénia mais de um milhão de pessoas vive na miséria.....um país com meio milhão de refugiados internos e onde um quinto da população está em perigo iminente de fome....Números dramáticos denunciados por quem conhece o terreno..... o padre Tobias Oliveira, um missionário português da Consolata que diz que mais do que falar de pobreza no Quénia, é preciso falar de fome... Nestes semana em que decorre aqui em Roma a Conferência da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, este missionário diz que no caso do Quénia, à falta de bens essenciais, junta-se a impossibilidade de acesso a cuidados médicos por parte dos mais necessitados.Em entrevista ao nosso correspondente em Portugal Domingos Pinto, o Padre Tobias Oliveira confessa algum pessimismo e admite que o cenário de crise vai agravar-se nos próximos tempos... O impacto da crise alimentar com reflexos ainda mais visiveis nos países mais pobres, como é o caso do Quénia.....um exemplo dramático que mostra bem a gravidade da situação com o aumento do preço dos alimentos e a insegurança no mundo, que decorre, entre outros motivos, do aumento do preço dos combustíveis.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

DADOS E ESTATÍSTICAS
Um relatório elaborado pelo Centro de Justiça Global, pela Comissão Pastoral da Terra e pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra prova a verdade da afirmação da CNBB. Por esse documento ficamos sabendo que o grau de concentração de terra no Brasil é um dos maiores do mundo.
Menos de 50 mil propriedades rurais possuem áreas superiores a mil hectares e controlam 50% das terras cadastradas. Cerca de 1% dos proprietários rurais detêm em torno de 46% de todas as terras. Dos aproximadamente 400 milhões de hectares reconhecidos como propriedade privada, apenas 60 milhões são utilizados para lavoura. As terras restantes estão ociosas, sub-utilizadas, ou destinam-se à pecuária.
Segundo o censo de 1995, existem cerca de 4,8 milhões de famílias de trabalhadores rurais "sem terra", que vivem em condições de arrendatários, meeiros, posseiros, ou com propriedades de menos de 5 hectares.

O QUE AS TERRAS PRODUZEM
O Brasil produz apenas 75 milhões de toneladas de grãos por ano. Esse número é quatro vezes menor do que a média da produção em países com condições climáticas e de solo iguais ou piores. Segundo o Censo Agropecuário, entre 1985 e 1996, as áreas com lavoura permanente foram reduzidas em 2 milhões de hectares, e as com lavouras temporárias em 8,3 milhões de hectares. De 1980 a 1996, a área cultivada reduziu em 2% e a população aumentou em 34%. Na década de 80, o Banco do Brasil investia em torno de 19 bilhões de dólares na agricultura. Entre 1994 e 1998, a média de financiamentos foi de 6 bilhões de reais por ano.
OS QUE TRABALHAM A TERRA
De acordo com o censo de 1995, existem cerca de 23 milhões de trabalhadores no meio rural, e deles somente 5 milhões são classificados como assalariados rurais. Cerca de 65% desses assalariados não possuem carteira assinada e apenas 40% possuem trabalho o ano todo. Muitos desses trabalhadores chegam a trabalhar até 14 horas por dia. Nesse contexto, mulheres e crianças são as mais vulneráveis. A maioria das mulheres realiza dupla jornada, dedicando-se a trabalhar a terra e às tarefas domésticas. Cerca de 4 milhões de crianças trabalham no meio rural e somente 29% delas recebem remuneração. Entre as crianças de 5 a 9 anos, somente 7% recebem remuneração e um grande número não têm acesso à educação.

AS CONDIÇÕES DE QUEM TRABALHA NA TERRA
Entre 1980 e 1996,a renda média de todos os agricultores diminuiu 49%. Enquanto as melhores terras destinam-se à monocultura de cultivos para a exportação, como café, cana, algodão, soja e laranja, 32 milhões de pessoas passam fome no País e outros 65 milhões alimentam-se de forma precária. Desses 32 milhões que passam fome, metade vive no meio rural. Isso explica a migração para a cidade, que aumentou visivelmente nos últimos 30 anos. Os trabalhadores rurais diminuíram em 23%, de 1985 a 1996. Hoje mais de 77% da população brasileira vive nas cidades.Por isso a concentração de terras tem aumentado muito nestes últimos anos. As propriedades acima de 2 mil hectares passaram de 10.977 em 1992 para 27.556 em 1998, isto é, aumentou o número dos grandes fazendeiros.
A CNBB PRONUNCIA-SE SOBRE MISÉRIA E FOME NO BRASIL
Em seu último documento a CNBB afirma que o Brasil tem a possibilidade de vencer esse grande desafio. É um problema que o Brasil pode superar sozinho...
" temos recursos e tecnologia para vencer a fome. Falta-nos o espírito solidário e evangélico para renunciar a privilégios e libertar-nos do vírus do egoísmo. Falta-nos, ainda, decisão política(...) Temos capacidade de produzir alimento bastante para o consumo interno.e para a exportação. A combinação das redes pública e particulares de armazéns é capaz de atingir toda a população, em qualquer parte do Brasil.
Apesar disso, existe gente passando fome porque a renda familiar não permite comprar a comida que o mercado oferece. As raízes da fome estão, especialmente, na distribuição iníqua da renda e das riquezas, que se concentram nas mãos de poucos, deixando, na pobreza, enormes contingentes populacionais nas periferias urbanas e nas áreas rurais...à condição que haja solidariedade e simplicidade.
Continuam os bispos dizendo que "da afirmação da dignidade do ser humano decorre, também, o princípio ético da solidariedade". Princípio esse que "não pode ser confundido com certas práticas de assistência que humilham quem recebe. É preciso aprender a lição de ética que dá o povo da rua quando reparte o pouco que tem, para que todos sobrevivam. Essa ética particular, com mais razão, interpela a sociedade a repartir a abundância para que todos vivam humanamente, hoje e no futuro". Da afirmação da dignidade humana decorre também a exigência da simplicidade. (...) Precisamos abdicar do sonho consumista, ilusoriamente inculcado pela propaganda e implementar uma globalização solidária, a partir de um estilo de vida inspirado no Evangelho.
PROPOSTAS CONCRETAS
Reconhecem os bispos que a própria "Constituição 'Cidadã' de 1988 inova, em seu Preâmbulo, ao tratar da erradicação da pobreza e da marginalização", mas, infelizmente, temos ainda "um longo caminho a percorrer, pois, os governos pouco fizeram no campo dos direitos sociais, conformando-se antes a uma agenda monetarista e colocando a política financeira acima do desenvolvimento da cidadania".
"Garantir o alimento para todos, superando a miséria e a fome, exige de cada um de nós o engajamento pessoal. Mais do que isto, supõe a experiência pessoal do humilde e corajoso processo de gestação de uma nova sociedade, que atenda aos direitos e às necessidades básicas da população: educação, saúde, reforma agrária, política agrícola, demarcação das terras indígenas e das terras remanescentes dos quilombos, distribuição de renda, reforma fiscal e tributária, moradia. Exige também que desenvolvamos novas relações de trabalho e de gestão da empresa, criando uma economia de comunhão comprometida com a solidariedade e atenta às exigências da sustentabilidade".
Para isso a CNBB lança o Mutirão Nacional para a Superação da Miséria e da Fome, convidando "Dioceses em seus diversos níveis de organização" para que "sejam convidadas pessoas da própria comunidade eclesial a fim de formar grupos" que assumam esse Mutirão. Essa é uma resposta ao imperativo do Evangelho. Antes da multiplicação dos pães, Jesus disse aos apóstolos:"Dai-lhes vós mesmos de comer" (Mc 6,37).

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Miséria e Fome..


Como todas as outras desgraças que se abatem sobre a humanidade, também essas duas só puderam surgir por obra dela própria. Jamais esteve previsto nas determinações do Criador que o ser humano conhecesse privações e penúrias materiais durante sua passagem pela Terra.

Por isso, quem voluntariamente se priva de alimento ou rejeita bens materiais, na ilusão de assim progredir espiritualmente ou mesmo de agradar a Deus, age contra a Vontade Dele, isto é, peca e se sobrecarrega com uma grave culpa. É preciso ser realmente muito arrogante, vaidoso e presunçoso, e também especialmente tolo, para imaginar que o Criador de Todos os Mundos possa interessar-se, ou até alegrar-se, pelo fato de um ser humano não cuidar de seu corpo como deveria. Jejuns piedosos e votos de pobreza nada mais são do que testemunhos de estupidez e vaidade ilimitadas.

Mas deixemos de lado essas tolices e examinemos a fome e a miséria quando se abatem como pragas apocalípticas (que de fato são) sobre povos inteiros.

Como todos os outros sinais do Juízo, também este não desperta mais do que uns poucos comentários de lamento e de desagrado durante os noticiários televisivos noturnos. Cenas de mães e filhos esquálidos, envoltos em trapos e rodeados de moscas, já se tornaram comuns e não chocam tanto. Às vezes, um ou outro artista lança uma campanha para se angariar fundos de ajuda, com o objetivo de amainar aquele sofrimento todo, mas logo depois tudo já está esquecido. Passam-se alguns meses e repetem-se as mesmas cenas, em alguma outra parte do mundo; as pessoas fazem os mesmos comentários de desaprovação, para esquecerem tudo novamente poucos dias depois.

Quem, realmente, se pergunta pela causa verdadeira da fome e da miséria no mundo, que cresce a olhos vistos?

Sociólogos, antropólogos e economistas têm-se debruçado sobre a questão há décadas, sem estabelecerem um consenso sobre as causas desses males e, menos ainda, como é notório, em relação às providências para sua erradicação.

Esses estudiosos chegaram a algumas conclusões que podem ser classificadas como diagnósticos parciais do problema. Nesse sentido, os trabalhos até agora desenvolvidos têm de fato uma importância bastante grande, já que nos permitem visualizar com maior clareza os efeitos terrenos do atuar errado da criatura humana. Contudo, também eles não apontam as causas reais da fome e da miséria no mundo.

No ano de 1798, o economista inglês Thomas Malthus publicou uma obra intitulada Ensaio Sobre o Princípio da População. Nesse trabalho, Malthus afirmava que a produção de alimentos no mundo crescia em progressão aritmética, enquanto que a população crescia em progressão geométrica. A conseqüência inevitável dessa desproporção seria pobreza crescente e fome permanente. Quando essa situação chega a extremos, a própria natureza interviria, por meio de pestes, epidemias e guerras, restabelecendo o equilíbrio. Essa é a razão, segundo os adeptos do malthusianismo, de a fome e a miséria ainda não terem atingido integralmente todos os povos da Terra.

No que essa teoria está certa, e no que ela está errada?

Quando Malthus lançou o seu ensaio, havia cerca de um bilhão de pessoas vivendo na Terra. Passados 150 anos, logo após o término da Segunda Guerra Mundial, o mundo havia ganho outro bilhão de habitantes. No início de 1992 a população mundial já atingia 5,5 bilhões de pessoas, num ritmo de crescimento de um bilhão de pessoas (quase uma China) por década.

Malthus, portanto, estava certo sobre a velocidade do crescimento da população mundial. Seu erro, porém, foi considerar essa taxa de crescimento como um parâmetro normal da natureza, isto é, apenas constatar, considerando como natural, a velocidade do crescimento populacional.

Nunca esteve previsto, de maneira alguma, que a Terra tivesse de abrigar uma tal quantidade de criaturas humanas, muito menos ainda que o ritmo de crescimento populacional fosse o que atualmente se verifica.